quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O Brasil para Inglês ver (parte 2)

Se não leu a parte 1, clique aqui.


Continuando...


Nesta parte do texto tratarei somente do assunto Educação. Na concepção de muitos especialistas a educação é a base para qualquer país que queira elevar seu nível social, e com isso fazer parte do seleto grupo dos desenvolvidos, deixando para trás a marca de país em desenvolvimento. É através da educação que se pretende fundar as bases para uma nação mais politizada e consciente de suas conquistas, e também de suas falhas. E apesar de sabermos tudo isso, nos deparamos com uma situação bastante calamitosa de nossas instituições de ensino.  Em primeiro lugar vamos deixar algo bem claro, implantar políticas públicas pela educação, segurança e saúde não é mérito, é obrigação, nossos governantes foram eleitos para isso. Então neste raciocínio é leviano se utilizar de conquistas nessa área como argumento eleitoreiro, seja lá quem for o candidato.


Muitos poderão discordar de mim, têm todo o direito, porém apresentarei aqui alguns argumentos para demonstrar, em minha humilde visão, que os atuais números da educação brasileira são "para inglês ver". A começar pela aberração denominada "progressão continuada". O governo do estado de São Paulo se orgulha em dizer que a repetência caiu assustadoramente após a implementação desta política. Lógico, visto que não se reprova mais ninguém, nem por falta e nem por notas. Isso porque a parcela de remuneração variável dos professores está atrelada a este indicador. Ou seja, quanto menor o índice de reprovação, maior o salário do professor. E com isso temos alunos se formando no ensino médio quase que semi-analfabetos. Não são todos, obviamente, porém este é um dado irreal, para não dizer virtual. E mesmo assim, o estado possui a 3ª melhor média do ensino médio público (Enem 2009), perdendo apenas para SC e PR. Isto não me diz o quão bom é o ensino do estado de SP, mas demonstra o contrário, o quão ruim são os demais.


Com relação aos exames nacionais de avaliação, em minha opinião, perde-se completamente o crédito quando ele é aplicado pelo órgão responsável pela organização e administração do ensino, o MEC. Na iniciativa privada, para uma organização ser avaliada contrata-se a peso de ouro as auditorias independentes, que pela sua própria nomenclatura possuem neutralidade suficiente para dizer, de acordo com os parâmetros do mercado e da legislação, se uma empresa é ou não de qualidade. E assim deveria ser nosso ensino, avaliado pelo mercado, que é o cliente final das Universidades. Porém, quem avalia é o mesmo que estabelece suas diretrizes, e onde há política e interesses pessoais, sabemos bem (e a história nos mostra isso) que não dá para confiar. Com relação ao Enem, recomendo que leia o meu texto "Não precisamos de um governo Popular, e sim de um governo Responsável".


Além de SiSu, ProUni e Enem, o MEC tem hoje uma carta na manga que é uma verdadeira chuva (para não dizer tempestade) de números e estatísticas, que é o REUNI, programa de expansão das Universidades Públicas. Site do REUNI. Ao se ver os dados dá até orgulho. Aumento de 20% das vagas, contratação de milhares de docentes, aumento de 90% dos campi, criação de novas 14 Universidades (na lei só, leiam matéria da ANDIFES) e por aí vai. Mas números puros não dizem nada, e sabemos que quantidade não anda de mãos dadas com qualidade. Então ao analisar esses dados mais de perto vemos que há uma disparidade entre o ideal e a realidade. 


Um dos princípios básicos da ciência mercadológica é o de conciliar oferta e demanda. De nada adianta ofertar muito de algo que ninguém quer. Um exemplo disso está nos inúmeros cursos criados pelas Universidades para atingir as metas do programa. Entre eles estão alguns cursos de GRADUAÇÃO:


Ciências Atmosféricas, Engenharia de Mobilidade (ein?), Museologia, Economia de Empresas, Física Computacional (não tem mercado nem pra físico), Higiene Dental (sim, como curso de graduação da UFPel!), Rochas Ornamentais (este é campeão), Matemática Industrial (não seria melhor um engenheiro?), Cooperativismo, etc.... 


A lista curiosa, para não dizer vexatória, é longa e promete uma coisa: dentro em breve (4-5 anos) teremos profissionais formados em áreas tão bizarras que terão que adaptar seu currículo para conseguir uma vaga no mercado de trabalho, não sabemos ao certo nem se conseguirão um estágio na área em que se formaram. Para os cursos já existentes é um sacrifício, a nova lei de estágio piorou ainda mais as condições de contratação de estagiários, imagine como ficarão os tecnólogos em Rochas Ornamentais? E o mais interessante de tudo, é que no decreto de criação do REUNI o governo incentiva as Universidades a assumirem esse compromisso, porém não garantem a salvaguarda financeira das iniciativas. Duvida? Vamos aos fatos:


DECRETO Nº 6.096, DE 24 DE ABRIL DE 2007


Art. 3° -  § 3o  O atendimento dos planos é condicionado à capacidade orçamentária e operacional do Ministério da Educação.


Ou seja, façam aí, que vocês receberão o dinheiro, se tiver.  E como sabe-se, o valor investido em 2010, 50 bilhões, são os mesmos 5% do PIB que se investia há 10 anos atrás, bem como são exatos 18% do total arrecadado em tributos, conforme manda nossa Constituição Federal.


Fora isso, existe uma distribuição no mínimo ineficiente das instituições públicas federais pelo território nacional.  O estado de Minas Gerais, sozinho, possui 20% das instituições de ensino superior federais. Enquanto que o Estado de São Paulo possui apenas 5, das 93 totais. Interessante verificar que as Universidades Estaduais em SP são 4,5 vezes mais numerosas que o de Federais (24).


Atualmente, segundo dados do senso INEP, no Brasil existem 236 instituições Públicas de ensino superior, entre Federais, Estaduais, Distritais e Municipais. Enquanto que para a rede particular este número é de 2.016.


Para finalizar esta parte eu concluo dizendo que números não dizem nada sozinhos, é preciso fazer uma análise de eficiência, eficácia e efetividade das ações. Conquanto acredito ser o REUNI um baita programa, critico-o por ser implantado a esmo, sem planejamento, com uma urgência eleitoreira e sem se preocupar com a qualidade, apenas jogando números e mais números em nossas "fuças".


Continua....




P.S.: Considero os professores de nossa rede pública de ensino verdeadeiros heróis, que conseguem literalmente retirar leite de pedra. E por falar em pedra, Tecnologia em Rochas Ornamentais.... é de F#$#%.... 




Abraços e até a parte 3.



Caique

Um comentário:

  1. Nao tiro a responsabilidade do governo quanto à educacao. Mas vamos colocar a parte de responsabilidade no povo tambem.
    Vejamos: existe muitos professores da rede publica dedicados a fazer um bom trabalho. Por mais carente que seja a escola, o conhecimento hoje esta muito mais acessivel. Mesmo se tivessemos apenas lousa, um livro e um professor na sala, os alunos teriam como aprender, estudar, iluminar o conhecimento. mas nao, a grande maioria esta nem ai pra paçoca. A culpa é toda do governo? A turma que vai entrar em Rochas Ornamentais so pode ter rocha na cabeca. Se nenhum aluno entrasse nesse curso ele deixaria de existir. Logo mais vao criar cotas nas empresas para os rocha-ornamentistas.

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