domingo, 14 de novembro de 2010

O exemplo e a cultura do ódio

Existem certos cargos e posições que demandam um certo respeito, não pelo poder que transcende a sua cadeira, não, mas pela imagem que nós, "súditos" fazemos dela. A liderança pode ser nata, inata, situacional, formal, informal e por aí vai. Não pretendo aqui discorrer sobre as inúmeras teses sobre liderança, mas quero apontar um fator que é crucial e comum a elas. O EXEMPLO.

Costuma-se dizer que palavras movem e exemplos arrastam. Esta é uma frase cujo autor, para mim, permanece anônimo, mas é a mais pura verdade. E podemos vê-la acontecendo no nosso dia-a-dia na figura de nossas lideranças políticas. Que não conseguem emitir frases neutras, têm de colocar uma pitada de partidarismo daqui, outra de ideologismo de lá. E acabamos por iniciar um processo de segmentação da nossa sociedade preocupante até.

Um exemplo disso está na reação de nosso Presidente frente ao problema do Enem. Ao afirmar que o exame fora um sucesso total e absoluto, ele está chamando todos aqueles que foram prejudicados de "efeito colateral". É o famoso mal necessário, sem saber de qual classe social eles advém, nosso Presidente continua, dizendo que quem não é a favor do Enem é por ter inveja do sucesso que ele tem. Infelizmente não foram só "riquinhos" prejudicados, conheço pessoas bem simples que foram "sorteadas" com a prova amarela.

Aparentemente é uma afirmação sem sentido essa de nosso Presidente, de mau gosto e inofensiva, mas que está surtindo um efeito bastante desastroso. Navegando pelos fóruns de jornais, blogs, etc. Tenho notado cada vez mais a segregação entre elite / não-elite. Pessoas indo às ruas para protestar (quer algo mais democrático que isso?) por causa de um exame mal aplicado e desorganizado, e tendo que ler ou ouvir comentários racistas e preconceituosos. Vou lhes dar um exemplo:

No seu blog, chamado "conversa afiada" o jornalista Paulo Henrique Amorim coloca as seguintes palavras:

"Agora é que a elite branca – e separatista, no caso de São Paulo – vai se estrebuchar."

Isso para mim é racismo, preconceito. Não acha? Eu não ouso escrever aqui, mas qual é o oposto de "elite branca e separatista"?

Existe também o caso da "twiteira" que pediu para internautas que fossem viajar durante o carnaval que matassem 3 nordestinos afogados (absurdo). E inclusive virou caso de polícia. Mas o preconceito e o racismo é de mão dupla, não funciona de uma via não. O ódio que se cria, apenas separa ao invés de unir um país que mais do que nunca, precisa de sua população unida. Se o PHA (Paulo Henrique Amorim) não é simpatizante dos veículos de comunicação, eu não tenho nada contra e ele tem todo o direito de criticar o quanto quiser. 

Porém, acho leviano, colocar intenções e palavras na boca de uma classe que só quer PAZ. Quer poder viver a sua vida de maneira digna, honesta, ganhar o seu dinheiro e ter segurança. Ou será que essa "elite" quer mesmo que sejam todos analfabetos, mendigos, pedindo esmolas em semáforo? Será que os milhões de reais doados ao programa criança esperança todo ano vêm de onde? E são doados para quê, senão para melhorar a vida de crianças carentes por este Brasil afora?

Esta elite que é acusada de querer que a classe menos favorecida não cresça, é a mesma que berra para as autoridades dar melhores escolas, é a mesma que se revolta ao ver 1/4 de tudo aquilo que ganha ir para as mãos do governo, e não receber absolutamente nada em troca.

Esta classe é a mesma que se trancafia dentro de sua própria casa com medo de assalto, seqüestro, latrocínio e assassinato. 

Que existam alguns poucos que tenham interesse na pobreza, eu não duvido, e condeno. Mas generalizar não é a solução. Pessoas vão às ruas, protestar contra a má organização da realização de um exame, e tem que ouvir que são um bando de "riquinho" que não se conformam com o pobre tendo acesso à Universidade. Nunca li, nem ouvi, asneira maior em toda minha vida. USP, UNESP e Unicamp possuem 1/3 de seus alunos vindos de escolas públicas, e nunca aderiram ao Enem. Poderíamos ter bem mais, se a educação em São Paulo não diplomasse alguns semi-analfabetos no ensino médio por causa da progressão continuada (ou sei lá o nome que dão pra essa aberração que diz que ninguém pode ser reprovado, condenável!).

Eu quero um país livre do analfabetismo, eu quero um país com o 13° (ou até 1°) maior IDH do mundo, e não o 13° país em desigualdade social.

E pra terminar faço uma paródia ao texto do PHA:

Que Horror! Onde já se viu querer morar em um país sem analfabetismo, é mesmo um absurdo! Quem pensa que são estes que cobram o governo para melhor aplicar o dinheiro público? Eu não quero viver em um país livre da miséria, não quero viver em um país em que são todos iguais. Não quero viver em um país livre de corrupção!

Quero viver em um país onde 50% das obras estão suspensas por super-faturamento. Quero viver em um país que considera 3000 estudantes um mero efeito colateral.

Que horror!

Já imaginou viver em um país cuja taxa de mortalidade infantil é perto de ZERO? Já imaginou viver em um país que você pode mobiliar a sua casa com o "lixo" do vizinho? Já imaginou poder esquecer o carro aberto, em pleno centro da cidade, sem se preocupar se ele estará lá ou não? Eu não quero viver em um país assim!

Que horror! Eu não quero viver na Noruega, que tem um IDH de 0,99 quando o máximo é 1. Quero viver em um país em que pessoas morrem nas filas dos hospitais, em um país onde somos vítimas diariamente de arrastões, balas perdidas e guerras do tráfico. Mas que tem o melhor futebol do mundo, copa e olimpíadas. Ah, sem se esquecer do carnaval e da mulher melancia.

É um absurdo!

Estamos carentes de bons exemplos. E não é de hoje.


Abraços

Caique Martins

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