terça-feira, 16 de novembro de 2010

O Brasil para Inglês ver (parte 1)

Mesmo após 179 anos do provável surgimento desta expressão, acredito que "nunca na história deste país", ela se fez tão presente. Em 1831, atendendo a pedidos da corte Britânica, editou-se uma lei que proibia o tráfico de escravos da África. Porém, esta lei se tornou letra morta e nunca foi levada a cabo, até a edição de outra lei, sobre o mesmo assunto em 1852, vinte e um anos depois. Daí o surgimento da expressão "para inglês ver".  É possível, segundo alguns historiadores, que a expressão tenha outras origens mas nenhuma tão expressiva quanto esta.

E nos dias atuais vemos diariamente situações que são "para inglês ver". Não somente com relação à legislação, que diariamente é desrespeitada, inclusive pelo Presidente, mas também pela densa maquilagem que cobre o nosso sistema político. Devido à notoriedade que o país está ganhando no cenário internacional, está se cobrando resultados em diversas áreas, não somente com relação à questões sociais, mas também com economia, diplomacia, infra-estrutura e criminalidade.

A ONU, que é o "olheiro" da comunidade internacional estabelece diversos indicadores para auferir o nível de desenvolvimento de um país para saber se estamos cumprindo com o que fora comprometido, assinado e ratificado nos tratados internacionais. Um exemplo deles é o índice de pobreza e miséria. Há vinte anos atrás firmou-se um acordo para erradicação da pobreza e da miséria até 2015. Faltam apenas 5 anos e as metas já foram atingidas e inclusive superadas! A comunidade internacional aplaude a iniciativa brasileira e muitos olham extasiados com tamanho sucesso. Mas é só cortar o auxílio do governo e milhões serão jogados novamente abaixo das condições sub-humanas de sobrevivência. O governo gasta (diferente de investe) mais de 13 bilhões com o bolsa-família para maquiar um número irreal. Quando estas 8 milhões de pessoas estiverem empregadas, alfabetizadas, morando em bairros com água tratada e encanada, esgoto tratado e com acesso à uma boa saúde (e não dependendo mais do governo) poderemos comemorar e ovacionar tais números. Enquanto isso não acontece, eles são mera purpurina cobrindo a realidade.

Outro dado que é para inglês ver é a tal da dívida líquida do setor público (DLSP), que segundo dados do governo diminuiu de 60% em 2002, para 41,5% do PIB até agosto de 2010. Aparentemente este número é fantástico, a composição de nossa dívida diminuiu bem. Porém ela está sendo comparada com um PIB artificialmente alto. Cujo crescimento está baseado em commodities compradas por um único cliente (China), e que todos sabemos ser água morro abaixo e fogo morro acima, além do instável setor da construção civil. Enquanto isso a produção da indústria retrai, nosso saldo de Transações Correntes (saldo de negociações de bens e serviços com o exterior) está com um déficit de 35 bilhões e nossa dívida externa cresce 70 bilhões só este ano, em um total de US$243,8 bilhões (dólares), o que o governo pagou foi a dívida com o FMI, não a dívida externa. E esta matemática de redução é bastante intrigante, em 2002 a DLSP estava em 600 bilhões, e hoje passa de assombrosos 1,415 TRILHÕES, até fim de setembro. Acho interessante comparar a dívida com o PIB, uma vez que se o PIB cair, a dívida não cai junto com ele. Então que "raio" de indicador é este?

Só pode ser "para inglês ver".

Fonte dados da DPL: Banco Central (arquivo .xls)
Fonte dados de Saldo TC e Dívida Externa: Banco Central

Continua... (Parte 2 clique aqui)

Abraços,

Caique Martins

2 comentários:

  1. Tem duas coisas que me irritam quanto a esse assunto:
    1) qualquer que fosse o resultado do segundo turno, não faria diferença, já que o principal é o voto para deputados e senadores, que muita gente nem lembra em qum votou;
    2) outra coisa é neguinho soltando rojão após confirmação do resultado da eleição... até a queima de fogos é patrocinada pelo candidato e o pessoal fica achando que, de repente, sai a anta pra entrar a vaca o Brasil vai ser diferente...

    Bom o texto, parabéns... aguardo a continuação.

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  2. E no meio dessa ampla visibilidade e relacionamento internacional, temos 2 (lula e dilma) liderando o país sem mal falar portugues. dureza...falou tudo...quando estas pessoas tiverem condicoes de viver sem o bolsa esmola, ai sim teremos tido um progresso. mas no final, o que interessa é que essa grana q eles ganham é para consumir mais e nao investir em melhorias de suas vidas. falei com um brother outro dia, la da favela no RJ, fazia 4 anos q ele nao ia la, disse que ficou impressionado com o 'progresso' da comunidade. Hoje mal tem lugar para parar carro no morro. Que beleza hein? Mas nao os culpo 100% pq tudo remete à educacao. Para o cara ver a luz sozinho é muito dificil. Se tivessemos aulas de educacao moral e civica, adm financeira, empreendedorismo, e ciencia politica, musica, o povo teria mais municao para comecar a pensar. mas ai o papo vai looonge. abraco!

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