segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Movimento dos Sem Cargo - MSC

Com a nova presidência definida, começa a corrida para a ocupação dos inúmeros cargos públicos no país. Enquanto países como França possuem apenas 300 cargos para distribuir, o Brasil tem mais de 20.000. Com novo governo troca-se desde os ministros de Estado (normal) até o gerente da Caixa Econômica de uma cidadezinha no interior de Pernambuco (anormal). Este número deturpa a função que tais cargos possuem. No funcionalismo público a regra é a do concurso, o qual garante estabilidade ao servidor que conquistou seu cargo por mérito.

Esta estabilidade garante que o servidor cumpra sua função, a de seguir estritamente o que está na lei, com garantias inclusive de desobedecer ordens manifestamente ilegais, sem que com isso corra o risco de perder seu cargo. O que não ocorre com os chamados cargos em comissão, que são de livre nomeação e exoneração (demissão). Como são livres, é bastante comum a pressão política e de interesses para que os ocupantes destes cargos cometam atos ilícitos e inclusive crimes. Recentemente vimos o vazamento de informações sigilosas da Receita Federal, promovida por funcionários comissionados filiados a partidos políticos.

Estes cargos, os comissionados, compõe o chamado Grupo de Direção e Acessoramento Superior, o DAS. São divididos em níveis que vão do 1 ao 6, em ordem crescente de importância e hierarquia. Ou seja, o sexto é o nível mais alto no escalão deste grupo, que pode ocupar inclusive a presidência e direção de autarquias, fundações, sociedades de economia mista e empresas públicas.

Em um estudo realizado, comparando-se dados entre 1997 e 2007, Daniel Tonelo (UNESP) faz uma comparação entre a composição destes cargos e sua evolução nos 10 anos pesquisados. No artigo, ele conclui que o clientelismo e o apadrinhamento aumentou neste período (acima do aumento de funcionários estatutários), tornando a máquina pública ainda mais ineficiente. Os dados demonstram inclusive que muitos ocupantes dos cargos DAS 5 e 6 possuem nível de escolaridade inferior a de seus subordinados.



De acordo com dados mais atuais, conforme a tabela acima, somente até julho de 2010, o total de cargos comissionados somam 21.623, contra 17.389 de 10 anos atrás, um crescimento de 24,35%. Porém podemos notar também que o crescimento ocorreu de forma localizada. Os DAS 1 e 2 obtiveram um crescimento conjunto de 8,23%, enquanto os DAS 3, 4, 5 e 6 cresceram 59,72%, com destaque especial ao DAS 4 que cresceu 76,9%.

O que nosso governo chama de governabilidade, eu chamo de nepotismo. A meritocracia ficou esquecida no cenário político nacional. Com o intuito de honrar os compromissos políticos assumidos durante a campanha, o governo terá que rebolar para conseguir cargos para todos. Infelizmente os cargos públicos se tornaram uma moeda de troca para se conseguir apoio político. E onde fica a supremacia do interesse público sobre o particular? E o que fazemos com o princípio constitucional da impessoalidade? Nossos políticos se esquecem que eles foram eleitos para governar um país para a sociedade, e não para si próprios.

E pelo andar da carruagem isso não irá mudar, vemos políticos já se degladiando para pegar ministérios, não pelo salário de ministro que é muito baixo (sim, R$ 12.000,00 por mês a um ministro de Estado é ridículo, se compararmos com o quanto um membro do conselho de Administração da Petrobras ganha, por exemplo, que chega perto de R$ 1,5 milhão ao ano), mas sim pelo orçamento daquele Ministério ou então pela notoriedade dada à pasta.

Viva a administração do aconchavo, viva a gestão por amizade, viva a incompetência pública. Enquanto isso pessoas morrem em filas de hospitais, precisam entrar na justiça para se aposentar, brigam por um exame mal aplicado e trabalham 4 meses por ano pagando impostos.

Lanço aqui o MSC - Movimento dos Sem Cargo.  Eu também quero o meu.

fonte: Secretaria de Recursos Humanos, relatório de agosto de 2010. Clique aqui. Pg 107 e seguintes.


Abraços


Caique Martins

5 comentários:

  1. Vendo por um lado é isso mesmo. Enquanto eu lia, fiquei pensando se os mesmos cargos fossem ocupados por concursados. Como bem sei, o serviço público é moroso, justamente por essa estabilidade dos cargos. As pessoas recém admitidas, com todo gás para trabalhar, entram e logo se decepcionam por serem coagidas a trabalharem menos, senão "dá nas vistas". Creio que neste caso temos: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.
    É sempre mais vantajoso analisar ambos os lados para opinar ;)

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  2. Alessandra, não é a estabilidade que causa a morosidade, e sim a vinculação às leis. Para a iniciativa privada é lícito fazer tudo o que a lei não proibe, no caso público é ilícito fazer o que não está na lei. Logo, enquanto uma lei não é editada nada pode-se fazer. Isso é a morosidade do nosso Congresso Nacional, que vê sua pauta trancada frequentemente para votar medidas provisórias (ato do presidente) criando tais cargos, ou então prorrogando prazos de contratos temporários. Não tampe o sol com a peneira. Por causa das eleiçoes o CN ficou 4 meses sem votar absolutamente nada. E os cargos comissionados são ocupados por pessoas desqualificadas em sua maioria.

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  3. Boa garoto! Ficou muito bom para ler (cores, tamanho). Bom conteudo.
    Vai ser uma boa para eu aprender mais sobre politica. Abracao!

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  4. Eu quis citar mais precisamente o fato do concursado não trabalhar... É fato que quando a pessoa entra ela relaxa e trabalha menos que o necessário. Eu já fui vítima disso, muitos na minha família já foram e amigos meus já foram coagidos a pisarem no freio... SIM! Levaram bronca por trabalharem na repartição. Tem a morosidade legal sim, mas tem também a estabilidade que gera preguiça e travamentos em muitos processos.
    Tem isso que você falou também, que é um outro ponto...
    Deixe de ser agressivo, não estou tampando sol nenhum... Gosto de opinar, mas se continuar a agredir, vou deixar de participar, pois terei certeza que você quer apenas mais tantos que concordem totalmente com o que você fala.
    Novamente: eu quis acrescentar, ok? Enquanto você não deixar seu pensamento preconceituoso sobre mim, ficará difícil!
    Té!

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  5. Nossa Ale, relaxa, não quis ser agressivo não. Apenas que o lado que você trouxe é outro assunto. Como se justificasse a criação de tantos cargos comissionados. O desleixo, a preguiça, eu concordo sim. Mas não vamos generalizar pois não são todos os órgãos assim, e também não são todos os servidores. Minha crítica aqui é basicamente ao apadrinhamento x concurso. Infelizmente, concurso ainda é a melhor solução. E temos concursados com excelente desempenho, assim como temos comissionados. Porém quando há muito cargo comissionado, a coisa descamba para a troca de cargos por favores políticos. Este é o meu ponto aqui. Podemos colocar em pauta a eficiência do servidor público, e com certeza não serei só elegios não.

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