sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Olha ELA de novo aí gente!

Consigo até ouvir a voz do Neguinho da Beija-flor bradando o título deste texto, pronto para entrar na Sapucaí, com toda a sua alegoria e graça. Ela, a que me refiro, é a INFLAÇÃO. É interessante como o povo brasileiro tem memória curta, ou as vezes nem memória tem. Não muito tempo atrás, se você possui mais de 25 anos deve se lembrar, íamos aos supermercados gastar todo o dinheiro do salário para abastecer a dispensa de casa. Muitos ainda perguntarão: "dispensa, o que é isso?". Poisé, e nesta falta de memória muitos acabam caindo nas falácias proferidas pelo governo atual, de que nunca na história deste país tanto se promoveu a inclusão, nunca se gerou tanto emprego, nunca se viu tanto pobre com celular, carro, casa, televisão, geladeira e ainda por cima IOGURTE!

Coloco o iogurte em caixa alta pois existe uma pesquisa que apontava tal item, hoje tão trivial e corriqueiro de nossas geladeiras, como sendo uma iguaria, privilégio de poucos (veja este clipping da ABRAS). O consumo ainda é baixo entre as camadas mais pobres, porém crescente. E o atual governo se orgulha disso, porém se esquece quem foi o real benfeitor, quem realmente é responsável pelo ganho de poder de compra das famílias. O REAL.

Em 16 anos, nossa moeda vem cumprindo o seu papel, não cabe à mim explicar e esmiuçar como isso foi feito (Plano Real - clique aqui) porém vale lembrar que na data de sua implantação o Brasil acumulava uma inflação de 1,1 quatrilhões porcento em 30 anos. Me lembro exatamente de ir com meu pai fazer a compra do(s) mes(es), o que não era perecível comprava-se para 1, 2 ou até 3 meses. Me lembro de haver um armário só para guardar oS pacoteS de maço de cigarro. Pois se em uma semana o cigarro custava CR$ 4.000,00 na semana seguinte já custaria algo em torno de CR$ 4.500,00. Porém o salário era o mesmo para o mês todo. Quem nunca ouviu a expressão: "Está sobrando mês no fim do dinheiro!"? E sobrava muito mês. Somente os que possuiam uma conta bancária mais polpuda é que tinham acesso a ferramentas financeiras (overnight) capazes de impedir a desvalorização da moeda. Até mesmo a caderneta de poupança não era mais confiável, lembra do confisco realizado pelo Collor?

E nesta linha, o que mais me preocupa é que o lado positivo do governo Lula, a manutenção da independência do Banco Central, está em risco, haja vista exigência feita por Meirelles (melhor presidente do BC que o governo Lula poderia ter tido) e que pelo visto não foi atendida. Teremos um novo presidente da autarquia, porém os mesmos ministros gastões. Não me assustaria se de repente Dilma anunciasse que irá manter Lula na Presidência. Mas é outra história.

O fato é que de todas as medidas adotadas por FHC para conter a inflação, Lula está fazendo o oposto, com exceção do que compete ao BACEN e ao CMN (Conselho Monetário Nacional).

O principal deles são os gastos da máquina pública, e com isso o Banco Central está sendo obrigado a aumentar os compulsório dos bancos, sob o argumento pífeo de conter a inadimplência (que está em níveis baixíssimos). O depósito compulsório é um valor que o BACEN exige como forma de garantia, porém ele também é uma poderosa ferramenta para controle de consumo, um dos principais fatores impulsionadores da inflação. Se há muita propensão a consumir e pouca oferta gradualmente os preços são forçados a subir. E estamos vendo isso no mercado interno de alimentos. Devido a exportações brasileiras está faltando produto no mercado interno pressionando os preços. Com este novo aumento espera-se retirar cerca de 61 bilhões do mercado.

Esta medida será sentida principalmente nos juros bancários, desestimulando assim o consumo, e por conseqüência a inflação. Porém haverá um novo fator, o enfraquecimento da indústria, que já demonstra mês a mês sinais de queda na produção devido ao valor do dólar muito barato. O que significa menos empregos, menos dinheiro circulando, menos consumo e a bola de neve vai crescendo, forçando o governo a gastar mais para manter a economia crescendo. O que vemos no fim do túnel é um destino parecido com o da Irlanda, Grécia, Portugal, Espanha e até mesmo a Itália.

Para evitar esse triste fim, devemos agora cortar gastos (e não comprar um avião de meio bilhão de reais), aumentar o superávit primário (diferença entre receitas e despesas do governo, que sofreu redução na previsão para o ano que vem) e estimular o crescimento da indústria (desvalorizando o real). Com menor participação do setor público é possível reduzir as taxas de juros e o compulsório sem correr o risco de inflação. O maior perigo é continuar gastando, a dívida pública continuar crescendo e o governo se ver em uma situação que será obrigado a emitir papel moeda para cobrir seus gastos básicos, gerando a hiperinflação por nós já conhecida.

O IPCA está pouco mais de 5%, chegando próximo aos patamares máximos estabelecidos pelo governo. O IGP-DI (preços no atacado, que invariavelmente chegarão ao consumidor) está próximo aos 8% acumulados nos últimos 12 meses.

É a inflação querendo mostrar a sua cara. DE NOVO.

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Abraços,

Caique Martins

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